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terça-feira, 6 de setembro de 2011

Quem Faz / Mariana Mello


Entregar Jogos Olímpicos inesquecíveis não é o suficiente para o Comitê Organizador Rio 2016. Dezoito dias após a Cerimônia de Encerramento do maior evento esportivo do planeta, a Cerimônia de Abertura dos Jogos Paraolímpicos chama novamente as atenções do mundo para a Cidade Maravilhosa. O mesmo espírito, o mesmo charme, as mesmas instalações e o mesmo padrão de organização estarão à disposição do público, dos atletas e de todos os profissionais envolvidos. Isso, em grande parte, graças à equipe de integração dos Jogos Paraolímpicos comandada por Mariana Mello.

Ex-judoca profissional, técnica da seleção brasileira de judô feminino paraolímpico, Mestre em Ciência da Motricidade Humana, o currículo de Mariana inclui ainda o cargo de Supervisora de Resultados nos Jogos Pan e Parapan-Americanos Rio 2007 e a participação em todo o processo da vitoriosa candidatura do Rio de Janeiro aos Jogos de 2016.

“A experiência do Pan e Parapan-americano foi fundamental para todo nosso time. Pela primeira vez, Jogos deste porte – à exceção de Jogos Olímpicos e Paraolímpicos -foram realizados juntos, um na sequência do outro. Foi um caso de sucesso, que está sendo replicado em outros continentes a partir de então. Aprendemos muito, foi um excelente ponto de partida para nosso desafio de organizar 2016”, lembra a Gerente, cuja área funcional faz parte do Departamento de Estratégia do Comitê.

Mariana e sua equipe têm a responsabilidade de acompanhar, auxiliar e monitorar todos os departamentos no que diz respeito às entregas referentes aos Jogos Paraolímpicos. Fazer com que o Comitê trabalhe para os dois eventos (Jogos Olímpicos e Paraolímpicos) com o mesmo nível de excelência e cultive os ideais olímpicos e paraolímpicos com a mesma determinação é o objetivo.

Paixão pelo Judô

Incentivada pela família a praticar esportes desde menina, o primeiro contato da futura judoca com a modalidade foi por acaso.

“Sempre gostei muito de esporte. Quando tinha 11, 12 anos, meu irmão foi fazer judô. Como ele era bem mais novo, eu levava e ficava esperando ele acabar a aula para trazer para casa. Então, resolvi que ia fazer também. No começo, foi complicado, porque o professor não aceitou aluna menina. Naquela época (1984), era difícil ter uma menina fazendo luta. Aí, tive que ter um processo de convencimento com ele primeiro. Depois, em casa, porque meus pais também não gostaram muito da ideia. Acabou que os convenci. No fim, meu irmão largou o judô, eu continuei”, conta.

Seis anos depois, Mariana chegou à faixa preta. Começou a obter bons resultados em competições nacionais e preparava-se para a seletiva para os Jogos Olímpicos de Barcelona 1992 quando sofreu um acidente de moto. Dois anos depois, foi convidada a deixar o Rio de Janeiro e treinar no Pinheiros, tradicional clube de São Paulo, que montava sua primeira equipe de judô feminino. Com mais intercâmbio e viagens internacionais, era uma das favoritas na seletiva para Atlanta 1996. Uma lesão no joelho na luta final e as consequentes operações acabaram por colocar um ponto final no sonho olímpico como atleta. A trajetória no esporte, entretanto, estava apenas começando.

Formou-se em Educação Física, treinou equipes de base do judô e teve seu primeiro contato com o esporte paraolímpico: “Em 2001, fui convidada para ser técnica da seleção brasileira de judô paraolímpico. Em 2004, seria a primeira participação do feminino, em Atenas. Comecei a trabalhar com as meninas, a gente foi para o Mundial, voltou com duas ou três medalhas, e eu percebi um potencial enorme ali. Era um esporte que estava começando no mundo e que quem trabalhasse melhor no início ia sair na frente”.

Passado, presente e futuro

Após a passagem como técnica, Mariana foi convidada a coordenar os eventos de judô paraolímpico no Brasil, com o objetivo de melhorar o nível e atrair mais atletas. Em 2004, conheceu Agberto Guimarães, Diretor de Esportes do Comitê Organizador Rio 2016, que a levou ao projeto dos Jogos Pan e Parapan-Americanos e, posteriormente, à candidatura olímpica e paraolímpica.

De sua época como judoca até o cargo atual no Comitê Rio 2016, vivenciou o desenvolvimento do esporte no Brasil e no mundo como poucos. “Hoje, o Judô é o segundo esporte mais praticado no Brasil. O número de meninas aumentou muito da minha época para cá. A estrutura também melhorou muito. No mundo, da época em que eu competia, era até difícil acreditar nas mudanças que estamos vendo hoje. Primeiro, a questão do quimono colorido. Não aceitava-se nada diferente do branco, nem em treinamento. Mudou por conta das transmissões de televisão, para melhor visualização dos golpes”.

“Depois, a técnica do Judô. A forma japonesa original de lutar, muito técnica, muito plástica, com aqueles movimentos bonitos, perdeu-se um pouco com o crescimento dos países do Leste Europeu, com um Judô mais de força. Descaracterizou. Então, em busca do retorno às origens, a comunidade internacional do Judô vem mudando as regras. Uma é a do koka [era a menor pontuação, hoje foi excluído da regra]. Muitos golpes de pegar na perna e cair sentado acabavam dando a vitória por um pontinho. Querem incentivar novamente a busca pelo ippon. Está se resgatando o Judô de quando eu comecei. Em 20 anos, saiu de um caminho, foi para o oposto e estão tentando voltar ao caminho inicial”, completa.

Eterna amante do Judô, as funções atuais exigem visão mais global. Nos Jogos Paraolímpicos, 22 esportes serão disputados em um espaço de 12 dias. Até lá, cinco anos de trabalho em tempo integral. No maior evento esportivo do planeta em 2016, olímpicos e paraolímpicos têm o mesmo charme, o mesmo espírito. E o mesmo comitê.

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